Como anda a saúde de seu bolso? O descontrole financeiro, tão temido pelos brasileiros, é decorrência de fatores como falta de hábito de se planejar financeiramente, forte pressão pelo consumo enquanto símbolo de aceitação social e crédito fácil — com um CPF e comprovante de residência, qualquer pessoa sai de uma loja com uma dívida no crediário. Mas há muito mais a ser analisado.
As consequências da mentalidade de consumir hoje e pagar amanhã (se der) são vistas nas estatísticas dos órgãos de proteção ao crédito: segundo a Serasa Experian, existe atualmente cerca de 63,4 milhões de endividados no Brasil. Já o SPC Brasil atesta que 73% dos brasileiros sequer entendem corretamente o conceito de inadimplência.
Mas quais são as explicações para o fato de, sob as mesmas condições econômicas, dois indivíduos construírem situações financeiras totalmente diferentes? E uma vez preso a essa areia movediça do endividamento, como tornar a vida financeira sustentável? Você confere abaixo as respostas!
Quais são os comportamentos que levam ao descontrole financeiro?
Estudos na área de Psicologia Econômica são relativamente recentes, surgindo em especial a partir do século XX. Mesmo assim, já há inúmeras produções sólidas, incluindo constatações de que os movimentos psíquicos de consumo são guiados por fatores socioculturais e influências interpessoais — além de questões internas, como a falta de autocontrole e o desenvolvimento de mecanismos psicológicos de compensação.
O sociólogo Zygmunt Bauman enfatiza que o crédito é um vício a seduzir uma sociedade na qual sua significação é diretamente proporcional à sua capacidade de consumo. Não ter poder de compra é fracassar em sua missão de vida.
Em paralelo, há um complexo sistema financeiro e publicitário que lucra com o endividamento. Nessa perspectiva, o cartão de crédito e o cheque especial passam a representar facilidades condenadas ao desequilíbrio em um ambiente de pressão e de associação dos bens a aspectos simbólicos de status e poder.
Nesse contexto, os principais comportamentos que desembocam em descontrole financeiro são os que listamos a seguir. Confira!
1. Necessidade de identidade
O consumismo desenfreado está muitas vezes ligado à necessidade de pertencimento. É a busca do poderio monetário (espelhado no volume de bens acumulados) como elemento norteador das relações sociais.
Repleto de simbolismo, comprar se torna consequência de sensos de urgência artificiais, que se acumulam indefinidamente e tornam mais difícil sair das dívidas após alguns meses de débitos.
Considerando que os juros do rotativo do cartão chegam perto de 300% a.a., um pequeno momento de fragilidade emocional já seria suficiente para afogar o indivíduo em uma espiral de dificuldades de longa duração.
2. Busca de compensação
Em alguns casos, o descontrole financeiro tem origem em inclinações psicológicas mais profundas ligadas à depressão.
Não são poucos os que, por não saberem lidar com sensações como vazio, tristeza e solidão, buscam nas gôndolas das lojas um escoamento psicológico na direção de um bem-estar duradouro, que raramente se mantém por mais de um dia.
Pior: esse ciclo de compulsão se reinicia nos dias subsequentes, gerando um círculo vicioso extremamente prejudicial à autoestima no longo prazo.
3. Satisfação de necessidades imediatas
Por que seguir o mantra do “sofrer primeiro e ter prazer depois” se as múltiplas formas de financiamento (consórcio, crédito pessoal, cheque especial etc.) entoam o canto da sereia para inverter essa lógica — já que, mesmo sem dinheiro no bolso, é possível saborear as melhores delícias da vida?
A tentação de seguir o caminho aparentemente mais fácil seduz pelo menos 50% da população brasileira. O problema é que a incidência de juros compostos sobre as parcelas empobrece muito o devedor, impedindo seu real crescimento financeiro no longo prazo.
É por essa diferença de mentalidade (poupador × “hedonista”) que alguns chegam à terceira idade sem depender do INSS, enquanto outros se encontram em profundo descontrole financeiro.
4. Falta de planejamento
Em 2016, 33,9% dos brasileiros sabiam pouco ou nada sobre seus gastos básicos. Muitos não sabem quanto ganham, tampouco têm hábito de planejar seu futuro com metas financeiras de crescimento para enriquecer. Essa apatia, evidentemente, tem consequências catastróficas ao longo do tempo.
5. Ausência de objetivos
Não se chega a lugar algum se não se sabe onde está. Mais do que isso, uma embarcação flutua à deriva sem um timoneiro que saiba exatamente qual é o destino de sua viagem. Na vida real, milhões de brasileiros deixam sua organização financeira navegar ao sopro da sorte. Você precisa ter objetivos claros.
O que você deseja? Materializar o sonho da casa própria? Fazer um intercâmbio no exterior? Cruzar a fronteira do primeiro milhão antes dos 50 anos? Acumular patrimônio para aposentadoria?
Todos esses alvos são factíveis, desde que sejam estruturados em um projeto de vida de longo prazo. Isso envolve colocar suas contas em uma planilha, estabelecer metas, ser resiliente, estudar muito, entre outras ações que você confere abaixo.
Como organizar sua vida financeira e vencer o descontrole?
1. Defina objetivos
Muito próximo da linha que explicamos acima. O primeiro passo para ganhar força para renunciar ao prazer do presente é internalizar o que está em jogo no futuro. E para isso, você precisa ter objetivos bem-definidos.
2. Conheça sua renda
O próximo passo para sair das correntes do descontrole financeiro é gerenciar suas finanças com mãos de ferro. E você começa a fazer isso ao colocar todas as suas receitas e despesas em uma planilha.
Enxergue sua gestão financeira pessoal como se fosse a de uma empresa: você é o CEO de seus próprios sonhos. E isso vai exigir especialização em finanças. A começar da organização de uma planilha, que deve conter todos os mínimos gastos e ganhos. Até o cafezinho no fim de tarde não pode escapar dos seus olhos.
Essa simples iniciativa de sistematizar seu fluxo financeiro tende a mostrar algumas despesas a serem cortadas, dando fôlego para sair do descontrole financeiro.
4. Faça mais do que economia: mude sua forma de enxergar o dinheiro
Seus rendimentos não podem ser vistos como repositório de despesas desenfreadas, mas sim como fonte de recursos para multiplicação de patrimônio. Não é aceitável que todos os seus ganhos sejam carbonizados dentro do mês.
Suas economias devem ser parcialmente direcionadas a investimentos, o que significa passar a viver com, no máximo, 70% de suas receitas. Ou seja, estamos falando em mais do que mudança de hábitos: trata-se de uma alteração profunda na forma de pensar o dinheiro em sua vida.
5. Abdique das compras a prazo
Depois de sistematizar as suas finanças e quitar as dívidas, é preciso entender o valor das compras à vista para que suas metas de economia realmente se cumpram.
Um consórcio, por exemplo, nada mais é do que a entrega a um administrador do dinheiro que o próprio consorciado poderia guardar. A diferença é o pagamento das taxas de administração. O mesmo raciocínio vale para um crediário.
Guardar dinheiro proporciona o pagamento à vista, o que representa não pagar juros e ainda ter poder de barganha para derrubar o valor de cada compra.
6. Invista na sua educação financeira
Uma vida financeira saudável não passa só por economias: você precisa saber tomar as melhores decisões de investimento para multiplicar seu capital.
E entre o oceano de opções que o mercado financeiro oferece, como fazer o cruzamento preciso entre as oportunidades do momento e seu perfil de risco?
A resposta está em estudo aprofundado de aplicações como CDB, Tesouro Direto, previdência privada, seguro de vida e ações.
Bem, você viu que o passo inicial para eliminar o descontrole financeiro é sistematizar seus ingressos e dispêndios. Que tal começar hoje essa mudança aprendendo como manter uma planilha de controle financeiro?