Os efeitos positivos da reforma da Previdência no médio/longo prazo, a recuperação de alguns setores (como a mineração) e a expectativa de continuidade das reformas abriam aos brasileiros novos horizontes de investimento para o ano em curso… Isso até a chegada da pandemia do novo coronavírus, que muda totalmente a previsão para a economia brasileira em 2020.
Com mais de 14 mil mortes em menos de 3 meses apenas no Brasil e com a economia global estagnada (a ponto de chegarmos a ter cotação negativa do petróleo e 30 milhões de desempregados nos Estados Unidos), os prognósticos atualmente são difíceis de serem feitos, haja vista a total imprevisibilidade da doença e, consequentemente, de quando a força produtiva poderá voltar à normalidade. Mas temos pistas que podem indicar caminhos.
Quais são as previsões para a economia brasileira em 2020? Como os indicadores econômicos mexem com suas decisões de aplicação? É isso que você confere a partir de agora!
Quais referenciais indicam o crescimento da economia brasileira em 2020?
Publicado pelo Banco Central todas as segundas-feiras, o Boletim Focus é um semanário online que traz o levantamento das projeções econômicas do mercado, mediante a divulgação da média de estimativas para índices de preços, câmbio, força da atividade econômica, inflação e Selic.
Fruto da avaliação de mais de 120 bancos, corretoras, consultorias e gestores de recursos, as projeções do Boletim Focus funcionam como uma verdadeira bússola na tomada de decisões no mercado financeiro.
É por isso que, se estamos tratando sobre crescimento da economia brasileira em 2020, não há como esquecer os dados desse documento. Vamos ver o que o último relatório nos diz sobre a expansão econômica nacional.
Produto Interno Bruto (PIB)
Em sua versão mais recente (27/3/2020), o relatório do Banco Central (BC) trouxe revisões sobre as projeções para o PIB e a inflação. Para o primeiro, a expectativa agora é que haja fechamento do ano em -3,34% (ante os +2,3% do início do ano).
Já para 2021, com a expectativa de que já haja entre nós alguma vacina ou medicamentos para controle da COVID-19, a estimativa é de recuperação produtiva, na casa dos 3% (positivos).
Inflação
Para a inflação, a análise dos economistas ouvidos pelo BC indica ainda patamares bem abaixo do centro da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), saindo dos 3,6% (divulgados em janeiro deste ano) para 2,20%. Para 2021, a expectativa do boletim divulgado no final de abril/2020 é de 3,40% e, para 2022, 3,50%
É importante lembrar que nem sempre inflação baixa é um dado positivo, dado que, neste caso, a estagnação de preços reflete o desaquecimento da economia brasileira em 2020, intensificado pela pandemia do novo coronavírus.
Taxa de juros
A projeção para a taxa Selic (taxa básica de juros, que serve como referencial da economia) saiu dos 4,5% (estimados no início do ano) para 3,0% (segundo o relatório de abril).
Para 2021, o prognóstico é de que a taxa de juros suba um pouco, alcançando os 4,25% e, em 2022, com o maior aquecimento econômico, atinja 5,88%.
Enquanto a inflação permanecer em patamares baixos e o consumo também inferior ao esperado, a tendência é que, de fato, a política de juros continue mantendo o ritmo sucessivo de queda.
Afinal, a Selic é um importante mecanismo de influência no consumo das famílias (por conta da capacidade de barateamento ou elevação no custo do crédito).
Dólar
Por fim, as recorrentes quebras de recorde na cotação do dólar fizeram os analistas subirem as previsões de fechamento da moeda norte-americana para R$ 4,80 em dezembro/2020 (antes os R$ 4,50 previstos no mês de março). Para 2021, a expectativa é de manutenção desse patamar, chegando a R$ 4,55 no final do ano.
Em uma cotação alta como essa, é preciso ter cautela para investir em ações de empresas com forte necessidade de importação de insumos (já que o câmbio possivelmente trará impactos negativos no lucro líquido anual).
Fundos cambiais, por outro lado, renascem como opção contra a volatilidade da moeda dos Estados Unidos.
Quais são os potenciais fatores de crescimento para 2020?
Perceba que as perspectivas de reaquecimento da economia brasileira em 2020 se deterioraram fortemente em decorrência da crise provocada pelo novo coronavírus.
Conforme atestam alguns analistas, estamos em uma crise política, em meio a uma crise sanitária, que sobreveio dentro de uma crise econômica. Esse cenário, evidentemente, exige atenção redobrada e investimentos em reservas de proteção.
Todas as variáveis citadas acima devem ser levadas em consideração no momento de estudar a melhor configuração para sua carteira de investimentos. Mas há ainda a ser considerado o ritmo da economia nos meses anteriores.
A produção industrial, por exemplo, fechou 2019 com retração de 1,1% após dois anos de alta. Já o varejo encerrou o ano com uma pequena alta (pelo terceiro ano consecutivo).
De toda forma, o potencial de crescimento da economia brasileira em 2020 depende muito do timing para o achatamento da curva de contaminações, a fim de que o país retome minimamente sua força produtiva.
A liberação do Auxílio Emergencial de R$ 600 (encabeça pelo Congresso Nacional) ajudará a injetar R$ 1,7 bilhões na economia; entretanto, por conta da ausência de protagonismo do Executivo no combate à pandemia, as medidas ainda se fazem tímidas diante do desafio que o país tem pela frente.
Será preciso criar e executar um grande programa de liberação de microcrédito às empresas para dar fôlego à economia brasileira em 2020, além de suporte aos estados para além do PLP 149/2020 (chamado informalmente de “Plano Mansueto Light”).
Quais são as expectativas para os segmentos da economia em 2020?
Partindo desse conhecimento, vamos entender quais ativos têm maior potencial de rentabilidade neste ano.
Ações
O dólar nas alturas favorece setores com forte DNA exportador, como mineração e agroindústria (empresa produz em real e vende em dólar).
Os segmentos de carne, de papel e de celulose também podem tirar proveito da desvalorização da moeda brasileira nos próximos meses, inclusive porque esses setores continuam ativos durante a pandemia do novo coronavírus.
Para quem tem interesse em investir em ações, vale a pena colocar ativos desses setores em seu radar após o fim da pandemia, embora a queda nos preços das commodities seja um obstáculo inegável ao crescimento do setor.
Por outro lado, as ações de empresas de eletroeletrônicos devem sofrer perdas relevantes no ano, já que muitos de seus insumos são importados da Europa e, principalmente, da Ásia.
A explosão do conoravírus também já provoca prejuízo em setores que dependem de comércio exterior com a China. Assim, empresas com grande intercâmbio nesse mercado devem ser estudadas com atenção. De todo modo, no ápice da COVID-19, as ações merecem ser vistas com cautela.
Fundos multimercados
Os fundos multimercados podem oferecer boas oportunidades por mesclarem ativos de renda fixa e variável em uma mesma carteira. A presença da renda fixa ajuda a diluir os riscos e a diversificar as aplicações, abrindo margem para aplicações mais arrojadas em ativos que se beneficiam do cenário da economia brasileira em 2020.
Renda fixa
Com relação aos investimentos em renda fixa, em um cenário de juros ao chão, títulos (públicos ou privados) atrelados à Selic perdem muito de sua atratividade.
Como a perspectiva é de continuidade (ou, ao menos, manutenção dessa política de baixa no custo do crédito), já é possível encontrar “papéis” vinculados aos juros com rentabilidade líquida próxima a zero. É o caso do Tesouro Selic 2023.
Entretanto, há ainda algumas opções em renda fixa a serem avaliadas. É o caso dos títulos indexados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Tesouro atrelados à inflação, que pagam parte da remuneração prefixada e parte de acordo com a variação do IPCA.
Planos de previdência privada
Após a aprovação da reforma da Previdência, a perspectiva é que a previdência privada receba aproximadamente 4 milhões de novos investidores nos 5 próximos anos, dando continuidade a um movimento de alta que já dura alguns anos.
Sobretudo com a eclosão da pandemia, fica evidente o quanto é importante ter recursos voltados à proteção financeira no futuro.
Em 2019, por exemplo, o segmento registrou uma expansão de 16,9%, o que sinaliza um despertar de maturidade do brasileiro em relação à importância de fazer um investimento de longo prazo, com potencial de rentabilidade superior à poupança e que garanta estabilidade financeira e qualidade de vida na velhice.
Aliás, o cenário econômico brasileiro em 2020 trouxe a notícia de que o governo não reajustará (pelo quinto ano consecutivo) a tabela de Imposto de Renda (IR), o que significa que o contribuinte pagará ainda mais impostos neste ano.
Só que uma estratégia inteligente para reduzir essa margem tributada é justamente investir em planos de previdência privada.
Isso porque um dos tipos (o Plano Gerador de Benefício Livre, PGBL) permite o abatimento dos aportes anuais realizados da base de cálculo da Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda (DIRPF).
Já o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) não oferece esse benefício, mas assegura que a tributação de IR no resgate seja feita apenas sobre os rendimentos do período (e não sobre o montante total aplicado).
A previdência privada tem também a vantagem de não ser considerada herança, o que significa pagamento mais rápido aos sucessores e, em geral, ausência de ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis).
Em meio à pandemia da COVID-19, uma vez compreendidas as projeções para a economia no Brasil em 2020, fica mais fácil visualizar as oportunidades que o mercado tende a oferecer, concorda?
Considere as projeções que reunimos neste artigo antes de investir e faça boas escolhas para proteger seu capital ou criar uma reserva em tempos de crise.
A propósito, agora que você tem um norte sobre quais ativos podem compor sua carteira na economia brasileira em 2020, que tal pensar em uma proteção financeira para você e para a sua família?
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