A educação financeira nas escolas, na formação de crianças e adolescentes ainda não é um tema amplamente discutido entre governos, pais e escolas no Brasil. Aqui, embora já exista um decreto do Governo Federal, desde 2010, para aplicação do projeto e a criação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF*), o tema é tratado de forma incipiente. O mesmo não acontece em países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul, onde o assunto já vem se desenvolvendo de forma mais intensa. A análise é da educadora, Cristina Develis, cujo objetivo é apresentar às crianças em idade escolar noções básicas de educação financeira, por meio da matemática contextualizada: “Desta forma, estamos contribuindo para que esses jovens tenham uma vida economicamente saudável e se tornem adultos que saibam lidar com o dinheiro, planejar os gastos dentro do orçamento, ficando longe de dívidas, e ainda ter reservas financeiras”.
Segundo ela, é importante mostrar que a educação financeira não é nada muito complexo: “São conceitos fundamentais na formação de um cidadão, para o consumo consciente e responsável, para o planejamento e mudança de atitude, tudo isso aliado à sua vida prática”. E exemplifica: “A criança aprende a fazer subtração, mas não consegue conferir o troco na cantina nem calcular quanto falta para comprar um determinado brinquedo, considerando que já juntou uma parte do dinheiro. É fundamental ensinar as crianças a se tornarem poupadores e investidores, em vez de gastadores impulsivos. Precisamos ajudá-las a guardar uma porcentagem maior do dinheiro que recebem e a gastar melhor”.
Para Cristina, o melhor exemplo de sucesso sobre educação financeira nas escolas é Cingapura, hoje um dos povos mais ricos do mundo, tendo se tornado a quarta população mais rica do mundo. “Em poucas décadas, esse país conseguiu superar a pobreza extrema, tornando-se um dos maiores centros financeiros do mundo, justamente porque investiu na educação do seu povo. As crianças têm aulas de finanças na escola desde cedo e aprendem a lidar com o dinheiro”, enfatiza.
Mudança de cenário
Mas essa situação ainda pode mudar no Brasil. “A educação financeira é algo que pode ser considerada nova para a maioria, pois vivemos em uma sociedade não habituada a lidar adequadamente com suas finanças”, destaca Cristina. “Nós adultos damos mau exemplo, a partir do momento em que temos um custo de vida acima das nossas possibilidades, acumulando dívidas. O resultado disso é que estamos criando uma geração que não tem a menor ideia sobre finanças e está completamente despreparada para as tentações e desafios financeiros que irão enfrentar”, destaca a educadora.
A disciplina ‘Educação Financeira’ ainda não faz parte do currículo oficial das instituições de ensino, mas vem ganhando espaço na rede privada de educação. “Algumas escolas da rede pública de estados como Tocantins, Amazonas e São Paulo (a maioria no interior) já implantaram projetos que vem dando bons resultados”, conta a educadora, responsável pelo “Programa de Educação Financeira para crianças e adolescentes”, que tem por objetivo desenvolver competências que permitam consumir, poupar e investir de forma responsável e inteligente. “Cabe à escola a função da escolarização, e aos pais, a educação, ou seja, a formação do indivíduo, mas isso não significa que as instituições não possam se ajudar”. A escola pode e deve programar em suas atividades o assunto Educação Financeira.
A Estratégia Nacional de Educação Financeira
A ENEF foi instituída por decreto presidencial em dezembro de 2010 e tem como objetivos promover a educação financeira e previdenciária; aumentar a capacidade do cidadão para realizar escolhas conscientes sobre a administração dos seus recursos; e contribuir para a eficiência e a solidez dos mercados financeiro, de capitais, de seguros, de previdência e de capitalização.
Com a ENEF, a educação financeira passa a ser uma política de Estado, de caráter permanente, envolvendo instituições, públicas e privadas, de âmbito federal, estadual e municipal. Suas ações podem ser oferecidas por instituições públicas ou privadas e são obrigatoriamente gratuitas, devem ser de interesse público, não podem ter caráter comercial e não podem recomendar produtos ou serviços financeiros. O conteúdo deve ser imparcial e técnico, sem nenhum tipo de viés.
(*) Normas relacionadas: Decreto nº 7.397, de 22 de dezembro de 2010; Deliberações Conef nº 1, nº 2 e nº 3, de 26 de maio de 2011.