Robert Redford morreu em 16 de setembro de 2025, aos 89 anos. Morreu conhecido, respeitado, admirado. Mas, sobretudo, morreu organizado. A biografia já estava pronta, o obituário estava escrito há décadas. O que surpreende é que a sucessão também estava pronta. Em um mundo em que artistas morrem deixando dívidas, brigas e penhoras, Redford deixou contratos, trusts e silêncio.
Gente Como a Gente: a família
Redford teve quatro filhos. Um deles, Scott, morreu ainda bebê. Amy e Shauna seguiram caminhos artísticos. James, documentarista e ativista, morreu em 2020. As ausências não o desestabilizaram. Casou-se duas vezes. Primeiro com Lola Van Wagenen, depois com Sibylle Szaggars, que ficou ao lado dele até o fim. Todos foram contemplados no arranjo sucessório. Não houve cortes teatrais, nem exclusões para provar ponto. Houve testamento claro, distribuição previsível e respeito às relações de sangue e de vida. A justiça doméstica foi mantida sem espetáculo.
Questionário: o testamento e os trusts
A herança não caiu como prêmio de loteria. Foi protegida em estruturas jurídicas que amarram tempo, maturidade e responsabilidade. Alguns filhos só terão acesso total às cotas quando atingirem idades específicas. Outros fundos estão vinculados a causas ambientais e culturais. Não se trata apenas de herdar. Trata-se de cumprir papéis. Redford transformou a sucessão em roteiro. Quem quiser acessar, terá de esperar o tempo e seguir as regras.
Todos os Homens do Presidente: o patrimônio e os impostos
O patrimônio foi estimado em aproximadamente US$ 200 milhões. O fisco americano não pede licença. Cobra. A conta chegou em torno de US$ 80 milhões em imposto federal, mais US$ 5 milhões a US$ 10 milhões em tributos estaduais e custos judiciais. No total, algo próximo de US$ 90 milhões evaporou antes mesmo da primeira reunião familiar. Sobraram cerca de US$ 110 milhões líquidos. Uma fortuna preservada, mas não sem custo. Redford sabia que o Estado levaria a parte dele. E preferiu pagar em ordem a deixar um inventário manchado por dívidas fiscais e manchetes constrangedoras.
Nada é para Sempre: a continuidade das receitas
O verdadeiro acerto foi não vender catálogo. Não antecipar ganho. Os royalties continuam a correr como rio: exibições, streaming, licenciamentos. Entre US$ 500 milhões e US$ 1,5 bilhão por mês. No ano, algo entre US$ 6 milhões e US$ 18 milhões em receita recorrente. Essa renda sustenta os fundos, paga as instituições e mantém o nome vivo sem depender de homenagens póstumas. E há o Sundance, instituto e festival, que funciona como usina permanente de reputação e dinheiro. Não é lembrança. É fluxo.
Golpe de Mestre: o que fica com a passagem de Robert Rerdford
Redford morreu com imagem intacta e patrimônio protegido. Não deixou briga em cartório, não deixou disputa pública, não deixou vergonha. O que sobra não é apenas a filmografia, mas a estrutura que impede que sua memória seja rifada em leilão de herança. Muitos partem deixando ruína. Ele partiu deixando roteiro. O silêncio que ficou depois da morte não é ausência. É continuidade.
