Você já se perguntou por que, mesmo sabendo matemática básica e entendendo a importância de economizar, ainda é tão difícil ver o dinheiro sobrar no fim do mês? A resposta pode não estar na planilha de gastos, mas sim na sua mente. Muitas vezes, tratamos as finanças como uma ciência exata, ignorando que somos seres humanos movidos por sentimentos, inseguranças e desejos momentâneos.
É exatamente aqui que entra a psicologia financeira, um campo de estudo que revela como nossas emoções ditam o destino do nosso bolso. Neste artigo, vamos explorar 15 lições para você entender os gatilhos mentais que levam ao consumo desenfreado e aprender, de uma vez por todas, a dominar seus impulsos em favor da sua tranquilidade futura.
O que é psicologia financeira?
A psicologia financeira é uma área de estudo que une a economia à psicologia para analisar as chamadas “finanças comportamentais” e entender por que tomamos certas decisões com o nosso dinheiro. Ao contrário da economia clássica, que assume que o ser humano é sempre racional e faz cálculos perfeitos para maximizar seus lucros, a psicologia financeira entende que somos seres emocionais e, portanto, nossos gastos, investimentos e poupança são profundamente influenciados por sentimentos, crenças e histórico familiar.
Qual a relação entre psicologia e gastos?
Segundo o livro A Psicologia Financeira, a relação entre psicologia e gastos justifica várias atitudes contraintuitivas que as pessoas com dinheiro, pois a maneira como gastamos tem mais a ver com ego, validação social e a busca por respeito do que com nossas necessidades materiais em si.
Por exemplo, o autor defende que, ultrapassado o nível básico de conforto, gastar dinheiro é, em grande parte, um reflexo do ego tentando mostrar aos outros que você tem dinheiro (ou que tinha, antes de gastá-lo). É aí que entram gastos como carros de luxo ou casas para obter respeito alheio e ostentar.
Por isso, o livro sugere usar o dinheiro para ganhar controle sobre o seu tempo, o que traria maior gratificação à pessoa. A sensação de independência e a capacidade de acordar e dizer “posso fazer o que quiser hoje” trazem um bem-estar muito mais duradouro do que o consumo.
10 lições de Morgan Housel em A Psicologia Financeira
No livro A Psicologia Financeira: lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade, Morgan Housel observa determinados comportamentos que podem afetar a maneira como lidamos com nosso dinheiro. Confira alguns dos ensinamentos do livro e melhore seu planejamento financeiro!
1. Ninguém é maluco
Imagina que você veja uma pessoa pobre gastar dinheiro em bilhetes de loteria. Isso não faz sentido, certo? A pessoa poderia aplicar essas quantias em investimentos com retorno mais certo e, quem sabe, acumular mais recursos do que conseguiria jogando na loteira pelo resto da sua vida. Porém, nossas decisões financeiras não são tomadas apenas pela razão; elas são moldadas pela nossa história.
Housel usa o exemplo de pessoas nascidas em décadas diferentes: alguém que nasceu em 1950 e viu o mercado de ações ficar estagnado durante a adolescência tomará uma decisão completamente diferente de alguém nascido em 1970, que viu o S&P 500 subir 10 vezes durante a mesma fase da vida. Por isso, o que parece “loucura” para você é muitas vezes uma tentativa de comprar um sonho ou uma esperança que pessoas ricas já têm garantida.
2. O perigo de não ter “o suficiente”
Rajat Gupta, ex-CEO da McKinsey, desejava muito ser bilionário, sendo que ele já era um multimilionário com patrimônio avaliado em US$ 100 milhões. Ele usou informações privilegiadas (insider trading) para lucrar rápido, foi pego e preso, o que destruiu sua reputação completamente. A lição aqui é sobre a ganância que faz você arriscar o que já tem e precisa, por algo que não tem e não precisa. Como explica Morgan Housel: se você deixar suas expectativas crescerem mais rápido que sua renda, nunca será feliz, não importa quanto ganhe.
3. Seja persistente com os investimentos
O cérebro humano não entende progressão exponencial. Pensamos que o acúmulo de recursos é veloz e evidente quando, na verdade, os juros compostos rendem aos poucos até chamarem a atenção. Warren Buffett não é apenas um bom investidor; ele é um investidor consistente há 75 anos. Se ele tivesse começado a investir aos 30 anos e parado aos 60 (como alguém comum), pouca gente teria ouvido falar dele. Seu segredo não é o retorno anual astronômico, mas o tempo que dedicou aos investimentos.
4. Você pode errar muito e ainda vencer
Não se preocupe se metade dos seus investimentos der errado. Housel cita o mercado de arte: grandes colecionadores compram várias obras, e por mais que a maioria não valesse muito, algumas poucas valorizavam tanto que pagavam pelo resto. No mercado de ações, é igual: poucas empresas geram quase todo o retorno do índice. É normal ter muitas perdas; o importante é como você se comporta quando a sorte grande aparece.
5. Dinheiro traz, sim, felicidade
Segundo pesquisa do psicólogo Angus Campbell, o maior denominador comum da felicidade não era renda ou beleza, mas “ter uma forte sensação de estar no controle da própria vida”. Dinheiro serve para comprar autonomia. Começa com a capacidade de tirar um dia de folga doente sem quebrar, evolui para poder esperar por um emprego melhor após uma demissão, e culmina na aposentadoria no seu próprio tempo.
6. Ninguém se importa com as suas posses
Housel narra em A Psicologia Financeira a época em que trabalhou como manobrista. Ele notou que, quando chegava uma Ferrari, ele nunca olhava para o motorista, e prestava atenção apenas no carro, se imaginando nele. Ou seja, o motorista provavelmente achava que estava ganhando admiração por ter uma Ferrari, mas a verdade é que ninguém liga para as suas posses tanto quanto você. Se você busca respeito e admiração, é mais fácil consegui-los pela humildade, gentileza e empatia do que comprando um carro de luxo.
7. Guarde dinheiro mesmo sem ter alguma meta
Você não precisa ter uma meta em mente, como comprar casa ou um carro, para economizar. Economizar deve ser um hábito padrão, pois o mundo é imprevisível. Ter dinheiro guardado “sem motivo” é o que te dá flexibilidade para agarrar oportunidades ou sobreviver a crises que você nem consegue prever hoje, como uma pandemia ou uma demissão súbita.
8. Melhor tentar ser razoável do que racional
Tentar ser 100% racional é uma armadilha, porque somos criaturas emocionais. Housel sugere que tentemos ser razoáveis, pois melhor estratégia financeira é aquela que você consegue manter nos momentos difíceis. Por exemplo, matematicamente, pode fazer sentido investir cada centavo e não pagar a hipoteca da casa se os juros forem baixos. Mas se pagar a casa te faz dormir melhor à noite, então essa é a decisão certa para você.
9. O passado não é uma boa referência
Investidores caem na falácia de usar o passado como guia infalível para o futuro: por exemplo, “nunca houve uma crise assim, então não haverá”. Usar dados históricos para prever o pior cenário possível é falho, porque o pior cenário futuro será, por definição, uma surpresa sem precedentes (como a crise de 2008 ou a pandemia de Covid-19). Prepare-se para o desconhecido, não apenas para o que já aconteceu.
10. Você vai mudar
Nós subestimamos o quanto mudaremos no futuro. Um jovem de 20 anos paga caro para fazer uma tatuagem, enquanto um adulto de 40 paga caro para removê-la. Planejamentos financeiros de longuíssimo prazo são difíceis porque nossos desejos mudam. A solução de Housel é evitar extremos: não viva uma vida miserável hoje para ser rico aos 80 anos, nem gaste tudo hoje ignorando o futuro. Busque o equilíbrio, pois é a estratégia com menor chance de causar arrependimento quando sua personalidade mudar.
Como controlar as emoções quando se trata de finanças?
Agora que você conhece o conceito de psicologia financeira, vem a pergunta de R$ 1 milhão: como controlar as emoções para não prejudicar as finanças? A seguir, indicamos para você algumas estratégias comportamentais para impedir que o seu psicológico sabote o seu sucesso financeiro. Lembre-se: o sucesso financeiro tem menos a ver com inteligência e mais a ver com comportamento, então teste nossas dicas!
1. Encare a volatilidade como uma taxa, e não um erro
Quando vemos nossos investimentos caírem, nosso instinto psicológico é achar que fizemos algo errado e que devemos evitar isso no futuro, o que pode levar a vender na baixa na próxima vez que algo similar ocorrer. Em vez disso, encare as quedas do mercado como uma taxa de ingresso que você paga para ter o direito de obter retornos maiores ao longo do tempo. Assim, a dor psicológica diminui e você não sai do jogo.
2. Tenha paciência para o longo prazo
No curto prazo, a sorte e o risco dominam os resultados. No longo prazo, o esforço e a consistência prevalecem. Quanto mais você encurta seu foco, mais seu psicológico sofre com a aleatoriedade da renda variável. Busque usar o tempo como seu aliado, pois a paciência é a melhor defesa contra a impulsividade.
3. Crie uma margem de erro para lidar com imprevistos
O maior erro psicológico é o excesso de confiança nas previsões (“eu sei que vou ganhar X, então posso gastar Y”). O mundo é movido por surpresas que ninguém previu. Então é importante ter um plano B para quando o plano A der errado: economize mais do que você acha necessário para formar uma “gordura” (margem de segurança) que permitirá que você sobreviva psicologica e financeiramente quando a vida te surpreender.
4. Identifique o jogo que você está jogando
Muitas decisões ruins acontecem quando, por medo ou ganância, imitamos pessoas que têm objetivos diferentes dos nossos. Um investidor de longo prazo não deve vender ações só porque um day trader está vendendo. Por isso, antes de tomar uma decisão baseada em notícias ou dicas, pergunte-se: “Essa pessoa tem o mesmo horizonte de tempo e objetivos que eu?”. Se não, ignore.
5. Evite extremos para não se arrepender depois
Nós mudamos com o tempo. Um plano financeiro extremo, como viver com quase nada para aposentar cedo ou gastar tudo hoje, aumenta a chance de arrependimento futuro quando seus desejos mudarem. Poupe de forma moderada e aproveite a vida de forma moderada. Isso aumenta a sustentabilidade do plano e evita que você abandone tudo no meio do caminho porque se sentiu privado ou irresponsável demais.
Livros sobre psicologia financeira para você conhecer
Além de A Psicologia Financeira, de Morgan Housel, você pode ler outros títulos sobre a relação entre emoções e finanças. Confira só!
1. Dinheiro é emocional, de Tiago Brunet
Nesta obra, Brunet defende a tese de que a riqueza e a estabilidade financeira dependem muito mais da inteligência emocional do que de conhecimentos técnicos de economia. O livro explica como nossos sentimentos e crenças governam o destino do nosso dinheiro, para que aprendamos a assumir o controle das emoções para tomar decisões mais sábias e prosperar.
2. A Mentalidade da Abundância: o Sucesso Começa Aqui, de Joel Osteen
Com uma abordagem voltada para o desenvolvimento pessoal e a fé, Joel Osteen foca na “reprogramação” mental. O autor argumenta que muitos não alcançam o sucesso porque vivem presos a pensamentos de escassez e derrota. O livro ensina a romper com rótulos negativos e cultivar uma visão interna de abundância para, então, manifestá-la na vida prática.
3. Emoções financeiras, de Thiago Godoy
Thiago Godoy (conhecido como Papai Financeiro) mergulha na psicologia econômica e nas finanças comportamentais. O livro ajuda a entender por que gastamos como gastamos, explorando os gatilhos mentais e os impulsos inconscientes que levam ao endividamento. Inclusive, o Papai Financeiro já participou do Zona Segura, videocast da MAG Seguros, em um episódio recheado de dicas práticas sobre psicologia financeira!
É possível dominar a psicologia financeira com conhecimento
Aplicar a psicologia financeira vai muito além de escolher os melhores investimentos — trata-se de reformular hábitos diários, inclusive a forma como gerenciamos as despesas do lar. Assim, cortar desperdícios na conta de luz, água ou supermercado deixa de ser um sacrifício e torna-se um exercício de inteligência emocional e controle, permitindo que você direcione esses recursos para conquistar a liberdade financeira que tanto almeja.





