Hoje o assunto é forma de pagamento, uma armadilha que tem feito muita gente se endividar e estragar a própria vida financeira. Já falamos em diversos posts sobre a recomendação de pagar suas compras à vista sempre que possível, está lembrado?
A questão é que, de forma geral, o pagamento a prazo traz empobrecimento (em virtude dos juros com que você terá de arcar), além de bagunçar completamente sua organização financeira.
Um exemplo: quantas vezes você se animou com uma suposta sobra de dinheiro no final do mês e, de repente, lembrou-se que fez algumas compras no cartão de crédito (fazendo, portanto, com que a sobra virasse dívida)?
O pior é quando a pessoa tem débitos no cartão de crédito, dinheiro retirado do cheque especial, financiamento imobiliário e crediário em lojas de departamento. Tudo junto. Daí fica impossível não se enrolar.
Em linhas gerais, o pagamento à vista está no topo das formas de pagamento mais inteligentes. A pegadinha aqui é que, no entanto, existem algumas poucas situações em que é melhor pagar a prazo do que “em efetivo”. Quais? Continue lendo e você descobrirá.
A paixão do brasileiro pelo “canto da sereia” do pagamento a prazo
Uma pesquisa feita em 2015 pelo SPC Brasil mostrou o que já sabemos na prática: 79% dos brasileiros preferem comprar parcelado, com ou sem juros. O grande perigo é quando você junta essa cultura do “desfrute hoje e pense como pagar outro dia” com um país que pratica as maiores taxas de juros do planeta. Daí o resultado são… 60 milhões de endividados.
Sim, sabemos que isso assusta. Poder de compra em baixa, desemprego em alta, juros em queda (mas ainda elevados) e a boa e velha tentação soprando aos seus ouvidos — aquela peça 50% off que você nunca viu em promoção na vitrine; aquele feirão de usados que pode tirar você do carma do transporte público lotado; aquela viagem que você sempre quis…tudo em suaves 30, 40, 60 meses.
Este post tem como objetivo ser um ponto de inflexão para você, que quase sempre cede a essa hipnose do consumo fácil. O que você precisa refletir aqui é se essa postura financeira não o está empobrecendo, impedindo-o de criar uma reserva financeira, de fazer investimentos e multiplicar seu salário. Vamos ver, então, quando o parcelamento está entre as formas de pagamento estratégicas.
Quando o parcelamento vale a pena
A regra geral, repetida como um mantra pelos economistas, é que vale a pena pagar à vista sempre que o desconto dado superar a rentabilidade da aplicação financeira a que seu dinheiro estiver vinculado. Você não faz nenhuma aplicação? Claro que faz. O simples direcionamento de seu 13º a uma caderneta de poupança é um investimento (embora de ínfima rentabilidade).
O problema é que, a depender de onde estão seus recursos, é melhor deixá-los na aplicação do que resgatá-los para quitar um débito. Vamos a um exemplo.
Imagine que você esteja terminando de pagar um financiamento imobiliário. Faltam ainda 11 parcelas, que hoje estão com valor em torno de R$ 2.200,00 (Tabela SAC, em que as prestações são decrescentes).
Se você usar as fórmulas dessa tabela para separar o valor principal dos juros, verá que pagará, até o final do financiamento, cerca de R$ 24.200,00, sendo que, se amortizasse o débito total hoje, pagaria apenas R$ 22.000,00 e se livraria da dívida de uma vez.
Ou seja, em 11 meses, você estaria condenado a pagar R$ 2 mil de juros (aproximadamente R$ 181 por mês) caso decidisse manter as coisas como estão, sem amortizar nada.
Muita atenção agora a este ponto: se esses R$ 22 mil que você tem para quitar a dívida estiverem em alguma aplicação que renda mais de R$ 181 por mês, já não vale mais a pena amortizar seu financiamento.
Levando em conta que 1% a.m. de R$ 22 mil corresponde a R$ 220, não seria muito difícil encontrar um investimento em renda fixa que superasse o desconto dado pelo banco. Nesse caso, meu caro, mantenha-se feliz com seu parcelamento, pois você está no lucro.
Compreendeu como nem sempre o pagamento à vista é uma das formas de pagamento mais inteligentes?
Há ainda outra situação em que parcelar pode ser benéfico: quando a divisão é feita sem juros. Daí é uma questão de estudar o perfil do consumidor. Se ele é organizado e sabe gerir suas contas mensais, essa compra pode ser feita sem problemas.
Mas calma, pagamento à vista continua sendo a regra
O que dissemos acima é uma exceção. Não se esqueça de é a calculadora que dirá, de forma definitiva, se vale a pena pagar de uma vez ou parcelar. O que dá para dizer, em linhas gerais, é que o pagamento à vista costuma ser mais compensador. Tanto porque você não paga os juros, como porque pode reduzir o valor do produto (em função do poder de barganha que você tem ao pagar tudo no momento da compra).
Esse poder aumenta ainda mais se você pagar em dinheiro, já que nesse caso o lojista não sofrerá descontos das operadoras de máquinas de cartões.
Quando o pagamento à vista vale a pena
Agora vamos a uma situação inversa do exemplo dado acima, mais comum, em que o pagamento “em efetivo” é mais vantajoso.
Você decide comprar um iPhone 8, que está sendo vendido na loja por cerca de R$ 4 mil, à vista. Você pode também parcelar o produto em 12 x R$ 380,00. Parece uma boa oportunidade…não fosse pelo fato de o valor total parcelado chegar a R$ 4.560,00 (R$ 560,00 a mais). Esse é o primeiro cenário das formas de pagamento. Vamos agora ao segundo.
Em vez disso, você decidiu colocar, mensalmente, R$ 350,00 em um CDB que rende 1% ao mês. Usando essa calculadora de juros compostos, você verá que, em 1 ano, chegará a R$ 4.438,00.
Agora vamos juntar todas essas informações e agregar outras. Você juntou R$ 350 em 12 meses: ganhou R$ 4.438, mas só juntou R$ 4.200,00 (350 x12), concorda?
Outra questão: o valor do produto é R$ 4 mil, mas se você chegar na loja com o valor total, possivelmente vai conseguir levá-lo com 10% de desconto. Ou seja, leva o aparelho por R$ 3.600,00.
Veja os dois valores destacados em negrito e você perceberá, a um só golpe de vista, a diferença entre uma situação e outra. Na primeira, você se entregou à facilidade da compra a prazo, mas em 12 meses adquiriu a mercadoria por R$ 4.560,00.
No segundo cenário, você juntou R$ 4.438,00, mas levou o celular por apenas R$ 3.600,00. Quase mil reais de diferença. E isso sem falar nos R$ 838,00 que você juntou a mais.
Agora imagine que você não fez essa conta e combinou pagamento parcelado. Perdeu um bom dinheiro. Vamos mais longe. Imagine que você repita esse procedimento com todas as suas compras. Percebe o quanto está empobrecendo, sem notar?
Este artigo foi útil para que você descobrisse a sutileza na escolha das melhores formas de pagamento? Então compartilhe este conteúdo em suas redes sociais e ajude seus amigos a não amargar esses prejuízos. Até a próxima!