Vinho e amor para prevenir o Alzheimer

logo mag seguros Por Karla Rondon Prado
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ícone de calendário indicando a data da publicação​ Criado em 18/04/2016 | Atualizado em 22/12/2022

O sol batia na cristaleira, iluminando os copos de cristal coloridos. Meu filho de 2 anos e 7 meses, que toma café da manhã todos os dias olhando para eles, perguntou se podia pegá-los. “Não, filho. Um dia você pode beber nesses copos, mas agora não, porque eu não quero que quebre. São muito bonitos e foram da minha vovó”. Ele olhou para mim: “Sua vovó? Cadê a sua vovó?”. “Ela foi para o céu”, eu disse, “assim como a sua vovó Cida”. Ele olhou para o céu e depois para mim com uma expressão de angústia. “E a minha vó Alice? Ela não vai para o céu, por que ela não voa, né?”. Achando o menino muito pequeno para nos aprofundarmos nessa conversa, cortei sua dor. “É, ela é muito nova”. Ele insistiu: “Por que vai para o céu?”. “São fases da vida, meu lindo. Lembra que até outro dia você era bebezinho?”. E então ele se lembrou e sorriu.

Passei o dia pensando nesse diálogo, na luz calmante do sol àquela hora da manhã e no céu azul claro contrastando com o pânico que brotou naquele rostinho. E essa cena toda me fez lembrar também da minha mãe, a vovó Cida que meu filho não conheceu. Ela morreu, aos 67 anos, de forma bem triste: vítima de uma doença degenerativa, síndrome demencial, com sintomas semelhantes ao Alzheimer.

Quando se fala em demência/demencial, a família até se ofende, mas na medicina é o nome que se dá para falar de deficiência cognitiva progressiva. Esse tipo de doença aflige a todos e merece uma atenção especial por parte da família, que dificilmente percebe os primeiros sintomas. Muitas vezes, a princípio, a pessoa apenas se mostra desinteressada em tudo, o que se confunde com um processo depressivo. Por isso é importante que os parentes logo levem o doente ao médico. Ele parece “normal”, mas exames mais aprofundados e acompanhamento podem detectar alguns sintomas e medicamentos podem fazê-la avançar mais lentamente, pois, infelizmente, não há cura.

É importante observar outro aspecto: a dificuldade da pessoa de criar novas memórias, a “mania” de repetir as mesmas perguntas. No caso da minha mãe, nunca se chegou a um diagnóstico preciso e a causa é ignorada, o que aumentou muito o sofrimento da família. O importante nessa hora é que todos tenham a noção de que embora o paciente deixe de andar e de falar, médicos acreditam que a consciência seja uma das últimas coisas a ir embora, o que é aterrador. Saber que a pessoa está viva e consciente de que está morrendo aos poucos é cruel. Nessa hora, união e compreensão são fundamentais. É como se tratássemos de um bebê, redobrando cuidados com sua pele e alimentação. Amor é remédio fundamental.

Para quem tem casos na família de doenças como essa e como Alzheimer, que é genética e pode passar de pai para filho (e ele não necessariamente irá desenvolvê-la), é muito importante tentar se prevenir desde cedo. Cuidar e controlar a pressão arterial (hipertensos são mais propensos), tomar suplementos vitamínicos antioxidantes (estudos mostram que combinações das vitaminas A e E reduzem a incidência de Alzheimer) e adotar uma dieta saudável (como a mediterrânea, à base de peixe, verduras e frutas) são essenciais. Os médicos pelos quais minha mãe passou (foram muitos!) também aconselhavam dormir pelo menos oito horas por noite. Outra dica valiosa é beber uma taça de vinho tinto (que por suas propriedades protege os neurônios). Com esse ritual, a gente consegue viver bem por longos anos e assim vai para o céu feliz.

Mas só daqui a muuuuuitos anos. Saúde!