Você sabe como a taxa Selic afeta o mundo das ações? Muitos brasileiros acreditam que as operações financeiras são complexas demais para iniciantes ou mesmo não entendem esses conceitos básicos, como Selic, ações, inflação e renda fixa.
Por causa disso, ficam desmotivados, apesar de terem vontade de investir parte dos seus rendimentos, seja para obter uma renda extra, para tirar do papel um velho projeto ou até para garantir o futuro dos filhos.
Isso acontece, em partes, porque o investimento lamentavelmente ainda não faz parte da nossa cultura. É difícil vermos uma família de classe média conversando sobre previdência privada ou sobre o mercado financeiro na mesa de jantar.
Por outro lado, ainda persiste o mito de que o investimento em ações é uma tarefa arriscada e complexa demais para iniciantes. Realmente, são necessários muitos anos de estudo para que alguém se torne um especialista no assunto. Mas isso não quer dizer, de modo algum, que esse tipo de investimento esteja restrito apenas aos experts.
Tudo o que você precisa para dar os primeiros passos na bolsa é vontade de aprender e uma grana extra. Não precisa ser muita coisa, pode ser um décimo terceiro salário, uma pequena herança, a restituição do IR ou mesmo uma parte do salário todo mês.
Para provar que o mercado financeiro está ao alcance de todos e para ajudar nosso leitor a dar os primeiros passos, dedicamos o artigo de hoje a uma das maiores dúvidas que investidores iniciantes têm: de que forma a taxa Selic afeta o mundo das ações. Confira a seguir!
O que é a Selic?
Muitas pessoas desconfiam que a Selic tem alguma coisa a ver com a taxa de juros. Não estão erradas! Mas se queremos entender a influência da Selic no mercado de ações, temos que descobrir exatamente o que ela significa.
Selic é uma sigla que representa a locução “Sistema Especial de Liquidação e de Custódia”. Trata-se de uma taxa de juros aplicada a empréstimos de curta duração entre bancos. Esses empréstimos são garantidos por títulos públicos e duram apenas um dia — são as chamadas operações “overnight” (de um dia para o outro).
Ela é conhecida como a taxa básica de juros da economia aqui no Brasil. Nada mais é do que um sistema de computador adotado pelo Banco Central para controlar a emissão, a venda e a compra de títulos, regulando assim a inflação.
Como é definida a taxa Selic?
O cálculo da Selic leva em consideração alguns elementos como o fator diário, o número de operações e o valor financeiro correspondente às taxas das operações, e resulta em um valor percentual anual. Como as operações duram apenas um único dia, as taxas são muito pequenas e, por isso, optou-se em trabalhar com o valor anual.
Para não ter que se preocupar com fórmulas e cálculos, o investidor iniciante pode tomar por base as metas traçadas pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil), já que os valores diários variam bastante, mas acabam fechando bem próximo à meta. No momento em que terminamos este o artigo, a meta traçada está em 6,50 ao ano. Por meio do site do Banco Central, é possível observar o índice atualizado com um histórico.
É importante acompanhar essa evolução porque ela afeta diretamente seus investimentos, uma vez que o rendimento de muitos deles está atrelado à taxa Selic.
Como funciona a taxa Selic?
Na prática, o Governo precisa de dinheiro para pagar suas dívidas e também fazer investimentos. Como assim? A União arrecada impostos para construir escolas, hospitais, estradas e injetar recursos na educação, na segurança e na saúde. Esse é o principal meio de reunir verba. No entanto, há outro canal: o Tesouro Nacional.
Assim, para investir em infraestrutura, o governo vende títulos do Tesouro Direto, e o Tesouro Direto Selic é um dos mais conhecidos. Com esse dinheiro, é possível antecipar a receita que será recolhida em impostos. É como se ele pegasse um empréstimo com os investidores para receber com antecedência o IRPF que será cobrado no ano seguinte.
A maior parte desses títulos do Tesouro será comprada pelos grandes bancos. Na verdade, a lei determina que todo banco coloque certo percentual dos seus depósitos em uma conta do Banco Central, como forma de controlar o grande volume de dinheiro em circulação.
Como são realizadas milhões de operações bancárias por dia, ao fim do dia os bancos chegam com um saldo menor ou maior do que é determinado pelo Banco Central. Além disso, ao final do expediente bancário, certamente um banco não fechará suas contas com um volume de saques e depósitos idênticos.
Terá um número maior de saques do que depósitos ou um número maior de depósitos do que de saques, gerando, respectivamente, um déficit ou um superávit em seu balanço.
O dinheiro é movido entre os próprios bancos de modo a compensar esse saldo e a taxa de juros cobrada em razão dessa movimentação é justamente o que chamamos de Selic. Ela é a menor taxa de juros da economia, e serve de base para outras taxas do mercado.
Esses empréstimos entre bancos são de curto prazo, girando em torno de 24 horas. A garantia dada pelas instituições para pegar esse recurso são os títulos públicos adquiridos do BC.
Mas como se define a taxa Selic?
Como você viu, ela serve de parâmetro para outras taxas do mercado. Assim, suas oscilações afetam profundamente toda a economia nacional. Por essa grande importância, é necessário que seu percentual seja decidido com base em critérios transparentes e exatos.
Por isso, foi formado em 1996 o Comitê de Política Monetária (Copom), que define a taxa de juros básica da economia e as regras sobre quanto dinheiro precisa estar em circulação no país.
Como a Selic influencia a economia?
Qualquer outro empréstimo que a instituição financeira faça a um terceiro — como uma empresa que quer ampliar seus negócios ou uma pessoa que deseja comprar um automóvel — será realizado a uma taxa de juro superior. Essa diferença entre a Selic e a taxa de juros cobrada pelos bancos em seus financiamentos é chamada de “spread bancário”.
O spread bancário nada mais é do que o lucro dos bancos. Em resumo, eles pegam dinheiro emprestado, seja de clientes seja de outros bancos, e usam o montante para fazer financiamentos ou fornecer empréstimos. Assim, quem pega um empréstimo ou financia um imóvel ou um carro, por exemplo, está pagando juros sobre juros.
O spread no Brasil é um dos mais altos em todo o mundo, sendo cerca de um terço dele composto pelo lucro do banco. Trata-se de uma reação das instituições financeiras ao risco de emprestar dinheiro em um país com altas taxas de inadimplência, que oferece poucas ferramentas jurídicas para cobrar dívidas que não estejam amparadas por garantias reais — a exemplo da impenhorabilidade absoluta do salário, da conta-poupança até 40 salários mínimos e do imóvel de família.
Dessa forma, todo o sistema financeiro é afetado, não só os investimentos. Podemos resumir as consequências da variação da Selic no mercado da seguinte maneira: quanto mais alta a Selic, maior será a taxa de juros cobrada pelos bancos quando ele emprestar dinheiro a terceiros.
Como consequência desse crédito caro, as pessoas tendem a consumir menos, fazendo com que as empresas produzam menos e invistam menos — afinal elas também são consumidoras de produtos bancários.
Mas então o que isso tem a ver com o mercado de ações? É o que você vai ver agora!
Afinal, como a taxa SELIC afeta o mundo das ações?
Quando o investidor compra uma ação que foi colocada à venda na bolsa de valores, é como se comprasse um pedaço daquela empresa. O valor da ação geralmente acompanha o valor do próprio negócio. Assim, se a instituição apresenta bons resultados, o valor da ação sobe. Agora, se a empresa não vai bem, a tendência é que o valor da ação caia.
Comprada a ação, o investidor tem basicamente duas opções, a depender de sua estratégia. Ele pode esperar até que o valor das ações da empresa suba para vender e lucrar a diferença entre o valor de compra e o de venda. Trata-se do chamado investimento especulativo.
O investidor pode também acreditar no potencial daquela empresa no longo prazo e ser remunerado com dividendos, isto é: a porção que lhe cabe do lucro que a companhia teve em determinado período.
Quanto mais ações o investidor tiver comprado, mais dinheiro receberá a título de dividendos. Em ambos os casos, o investidor depende do desempenho do negócio para que possa obter um retorno positivo.
Há uma infinidade de fatores que podem influenciar a performance de uma empresa no mercado, e um deles é justamente a taxa Selic. Como já tivemos a oportunidade de mencionar, a Selic alta pode encarecer as linhas de crédito bancário disponíveis para o negócio e também fazer com que o consumidor pense duas vezes antes de se endividar, diminuindo a probabilidade de que venha a consumir os produtos oferecidos pela empresa no mercado.
Para não ficar no prejuízo, a companhia terá que reduzir sua produção para se adaptar à nova demanda. Vendendo menos, o lucro diminui, assim como o valor das ações que estão nas mãos de seus investidores. Entendeu a ligação? Isso também está conectado à inflação do país. Veja a seguir!
Qual é a relação da taxa Selic com a inflação?
Primeiro, o que é inflação? Essa palavra é utilizada na economia para se referir à alta de preços de produtos e serviços no mercado em um determinado período. Se os preços caem, falamos de deflação.
A inflação é influenciada pela lei de oferta e demanda. Se os consumidores estão mais propensos a gastar, os preços sobem. Isso também acontece se um produto ou serviço estiver escasso no mercado. Por exemplo, digamos que as fortes chuvas tenham causado grandes perdas nas lavouras de verduras. Como serão poucos produtos à venda, eles tendem a ficar mais caros.
A alta de preços tem algumas consequências negativas, como:
• redução de poder de compra dos consumidores;
• poucos investimentos das empresas, por causa da diminuição do consumo e do aumento dos custos de produção;
• incerteza nos investimentos, o que pode paralisar projetos em andamento.
Mas a inflação pode significar que a economia está aquecida. Afinal, uma queda generalizada nos preços também pode ser preocupante, pois os consumidores param de comprar para esperar preços ainda mais reduzidos no futuro, travando a economia do país.
Assim, para controlar a inflação e evitar a alta dos preços, o governo usa a taxa básica de juros da economia, a nossa Selic. Aumentando os juros, os consumidores tendem a comprar menos. A demanda ficando menor, os preços tendem a cair.
Como ganhar mais que a taxa Selic?
Existem muitos investimentos do mercado que pagam mais do que a Selic. Vamos analisar algumas opções abaixo.
Renda fixa
Uma vez que os bancos são menores do que o governo, eles precisam oferecer produtos de investimento que sejam mais rentáveis do que a Selic, a fim de atrair investidores. E é o caso de:
• CDB;
• LCI;
• LCA;
• LC.
Essas são operações de baixo risco, porque contam com a segurança do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Se você deseja rentabilidades ainda maiores, veja a próxima opção.
Renda variável
Ao investir na Bolsa de Valores, ou em ações, é possível garantir rentabilidades ainda mais interessantes. Ao montar uma cartela que mescla diversos tipos de investimentos, é possível contar com uma margem de garantia da renda fixa, e buscar rendimentos maiores em ações.
Mas lembre-se de que essa rentabilidade maior também significa maiores riscos. Assim, assuma esse perigo conforme seu perfil de investidor.
Os investimentos que rendem taxa Selic ainda são uma boa opção?
Nos últimos anos, a taxa Selic reduziu de forma bastante significativa, saindo de 14,25% em 2016 para os 6,50% em 2019. Assim, os investimentos de renda fixa também perderam rentabilidade. Então será que ainda vale a pena?
É preciso considerar que toda a inflação também teve uma queda significativa. Por isso, os investimentos indexados à Selic ainda apresentam um rendimento atraente acima da inflação, e continuam sendo uma boa alternativa de baixo risco.
Quais são os melhores investimentos com a queda da Selic?
Se você está procurando investimentos um pouco maiores, sem muito risco, há outras alternativas:
• títulos do Tesouro Direto: com prazos maiores, você pode garantir taxas de juros mais atraentes, com um ganho real de 4 a 5% acima da inflação;
• títulos bancários, como CDBs prefixados, podem pagar de 9 a 10% ao ano;
• fundos de Crédito Privado, como Debêntures, DPGE, CRIs, CRAs e Letras Financeiras.
Entendeu como a taxa Selic afeta o mundo das ações? Não só o mercado de ações, mas toda a economia. Assim, é preciso, como investidor, ficar de olho nesse índice, a fim de tomar decisões financeiras acertadas que garantam uma boa rentabilidade.
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